Mais polêmica envolvendo o cenário político em Carnaíba. Confira texto publicado no Jornal Portal do Sertão:
O que significa ser mulher em um ambiente político tradicionalmente dominado por homens? Em Carnaíba, no sertão pernambucano, a resposta se torna cada vez mais evidente com o comportamento do candidato à prefeitura pelo PSB, Berg Gomes. Ontem, Berg foi flagrado desfilando pelas ruas da cidade ironizando com uma boneca que supostamente representava a sua adversária política, Ilma Valério, única mulher candidata à prefeitura. Esse episódio é apenas mais uma peça no quebra-cabeça de atitudes misóginas que a campanha do candidato vem reforçando.
Poucos dias antes, Berg Gomes foi denunciado por já ter respondido a um processo por violência doméstica contra sua própria esposa, Valderiza Lins, em São Luís do Maranhão. No processo, Valderiza teve que recorrer à Lei Maria da Penha e obter uma medida protetiva para garantir sua segurança e de sua família. Esse histórico revela o que muitas mulheres em Carnaíba já sabem: que o respeito à mulher, tanto em casa quanto no espaço público, parece estar em segundo plano na política local.
Apesar do discurso de igualdade de gênero amplamente defendido pelo PSB na capital, parece que esses valores ainda não chegaram ao sertão. Carnaíba é comandada há 20 anos pelo prefeito Anchieta Patriota, que trouxe seu sobrinho, Berg Gomes, do Maranhão para dar continuidade ao seu legado. Ilma Valério, uma empresária local nascida e criada na cidade, decidiu se levantar contra essa dinastia e buscar ser a primeira mulher a assumir a prefeitura em 70 anos de emancipação. Em resposta, tem sido hostilizada de todas as formas.
No recente debate na Rádio Pajeú, Berg Gomes proferiu falas machistas insinuando que “o lugar da mulher é na cozinha”, em uma tentativa de diminuir a legitimidade de Ilma como candidata. Suas palavras soam como um eco de uma cultura que ainda reluta em ver mulheres ocupando espaços de poder, especialmente em uma cidade onde o grupo político dominante parece ver o avanço feminino como uma ameaça.
Mas o machismo não se limita às palavras. A falta de representatividade de mulheres na chapa do PSB é outra evidência de que a igualdade de gênero não é uma prioridade. A vice de Berg Gomes? Não é uma mulher que traria um mínimo equilíbrio à disputa. É Cícero Batista, vereador conhecido na cidade por já ter tido quatro esposas, reforçando a visão patriarcal que permeia a política local.
O ápice dessa narrativa de desprezo pela mulher se consolidou com o apoio de figuras políticas influentes. O deputado Diogo Moraes, que deveria ser um representante da nova política, também participou do desfile pelas ruas de Carnaíba, ostentando a boneca que ridicularizava Ilma Valério. Essa atitude, longe de ser uma simples provocação eleitoral, simboliza a misoginia enraizada na campanha da situação.
Ilma Valério, por outro lado, carrega consigo a luta de muitas mulheres que, assim como ela, enfrentam diariamente o desafio de se impor em um ambiente hostil e desrespeitoso. Sua candidatura não é apenas uma busca por poder político, mas uma tentativa de romper com o ciclo de opressão que impede o avanço das mulheres na sociedade carnaibana.
A política de Carnaíba, assim como em muitos lugares do Brasil, ainda precisa enfrentar seus próprios demônios. E a misoginia, camuflada em brincadeiras e discursos aparentemente inofensivos, continua sendo uma dessas feridas que precisa ser exposta e combatida. Ser mulher em uma disputa política não deveria ser sinônimo de ser alvo de ataques pessoais e machistas. Em vez disso, deveria representar a força e a coragem de quem luta por um futuro mais justo e igualitário para todas.
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